Policiais mataram técnico de instalação de internet e alteraram cena do crime, conclui polícia
05/08/2025
(Foto: Reprodução) PMs são indiciados por morte de técnico de internet
Dois policiais militares foram indiciados pela morte do técnico de instalação de internet, Allan Carlos Porto Carrijo, de 36 anos, em Goiânia. A Polícia Civil concluiu o inquérito policial e indicou que não houve a situação de confronto alegada pelos investigados. De acordo com o delegado Carlos Alfama, após matarem a vítima, os policiais plantaram no local do crime uma arma branca para legitimar a ação.
“Há provas e informações robustas que demonstram que os investigados alteraram a cena do crime antes que os peritos criminais responsáveis pelo exame do local do crime comparecessem”, destacou o documento obtido pelo g1.
O g1 não localizou as defesas de Tiago Nogueira Chaves e Igor Moreira Carvalho para pedir um posicionamento até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a Polícia Militar de Goiás (PM-GO) informou que o caso segue em tramitação no Poder Judiciário e que “à época dos fatos, adotou todas as medidas administrativas cabíveis, conforme a legislação vigente” (leia o pronunciamento completo ao final do texto).
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O crime ocorreu em junho de 2024, no Residencial Buena Vista II. De acordo com o inquérito, os militares do 42º Batalhão da Polícia Militar (BPM) efetuaram três disparos contra o técnico, sendo um efetuado pelo tenente Tiago e outros dois pelo soldado Igor.
“Os autores cometeram o homicídio valendo-se de suas funções de policiais militares e alegando (no Registro de Atendimento Integrado e em seus interrogatórios) que o fato teria sido praticado para repelir injusta agressão por parte da vítima”, concluiu Alfama.
O tenente e o soldado foram indiciados por homicídio qualificado por motivo torpe, dissimulação e por curso que impossibilitou a defesa da vítima, por fraude processual majorada, devido a alteração da cena do crime, e por peculato-furto (pelo sumiço de dois celulares que estavam com o técnico).
O inquérito foi concluído pelo delegado em 30 de julho. Além do indiciamento, Alfama representou pela decretação da prisão preventiva dos militares. No entanto, a decisão cabe à Justiça.
Allan Carlos Porto Carrijo, de 36 anos, morto pela PM, em Goiânia
Reprodução/TV Anhanguera
Relembre o caso
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No dia do crime, Allan estava fazendo um atendimento como técnico de instalação de internet quando foi acusado de uma “tentativa de estupro”. Após isso, o homem foi agredido e xingado por amigas da suposta vítima e, posteriormente, por moradores. O linchamento foi registrado em vídeo (veja acima).
O técnico chegou a pular o muro do condomínio e depois saiu correndo pela rua para escapar das agressões, desarmado e sem camisa, informou a polícia.
“A investigação deixou claro que Allan Carlos, apesar das agressões sofridas, em nenhum momento reagiu agressivamente ou ofendeu seus agressores (mesmo quando eram somente mulheres lhe agredindo), permanecendo acuado durante todo o tempo”, narrou o documento.
Allan foi agredido por amigas de jovem antes de ser morto pela PM - Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
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Antes de ser morta, a vítima fez uma videochamada com a sua esposa, mostrou estava sem camisa em um lote baldio e que havia sido agredido. Allan também ligou para seu patrão e relatou o mal-entendido, “as agressões sofridas e expressando grande medo de ser encontrado e morto pelos militares, pois afirmava não ter feito nada de errado e não merecia ser preso”, confirme consta no inquérito policial.
De acordo com a investigação, a mulher “afirmou que não houve tentativa de estupro contra ela, tendo a situação se assemelhado a um mal-entendido ou a um comportamento inapropriado por parte de Allan”.
Após o crime, os policiais alegaram que o técnico “ao ser confrontado, teria avançado contra eles com uma faca, obrigando-os a atirar em legítima defesa”. Essa versão foi descartada pela investigação.
Investigação
Local onde o corpo de Allan Carlos Porto Carrijo foi encontrado
Reprodução/TV Anhanguera
A investigação indicou que os policiais militares "executaram covardemente uma vítima completamente desarmada e, depois, ‘plantaram' no local do crime uma faca para forjarem uma situação de legítima defesa buscando, com isso, eximirem-se da responsabilidade criminal”, confirme o inquérito.
Alfama frisou ainda que o tenente e o soldado subtraíram os aparelhos celulares que estavam com a vítima para dificultar o trabalho investigativo.
“Um dos celulares de Allan Carlos, que possuía rastreador da empresa onde trabalhava, foi verificado, e após a morte da vítima, o aparelho ‘rodou’ pela cidade, foi levado para o Batalhão da Polícia Militar (42º BPM) onde os militares envolvidos são lotados, e depois descartado em uma área de mata alta às margens de uma rodovia”, pontuou o delegado no inquérito.
Após matarem o técnico, os policiais deixaram o local do crime antes da chegada da equipe da Delegacia de Homicídios (DIH), destacou Alfama.
O documento diz ainda que assim que os investigadores chegaram ao local, “perceberam relevantes alterações no estado das coisas, realizadas pelos investigados com o intuito de induzirem a erro os peritos criminais”.
O delegado mencionou também que os militares se recusaram a participar da perícia de reprodução simulada dos fatos, mesmo tendo alegado legítima defesa.
“A repulsiva pretensão dos investigados neste inquérito policial de atuarem como ‘justiceiros’ resultou na execução covarde e injusta de um trabalhador”, ressaltou o investigador.
Nota da Polícia Militar de Goiás
A Polícia Militar de Goiás informa que, à época dos fatos, adotou todas as medidas administrativas cabíveis, conforme a legislação vigente.
O caso segue em tramitação no Poder Judiciário, responsável pelas deliberações processuais.
A Polícia Militar segue colaborando com a justiça e reitera o compromisso de cumprir as decisões emanadas do Poder Judiciário.
Assessoria de Comunicação Social
5ª Seção do Estado-Maior Estratégico – PMGO
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